14 November 2020

O amor cansa

O amor cansa
Pelo tempo que demora
A encontrar
A reconhecer
A entender
Toda aquela espera
Aquele deserto
Tão vazio quanto frio
Da solidão
Que nos envelhece
E endurece
Ai mas como cansa o amor
Pela tamanha energia 
Que consome
Quando finalmente
Aparece aquele homem
Que faz de novo tudo brilhar
E a pobre da alma 
Volta a acreditar
E lá segue cega 
Toda enamorada
Entusiasmada
Acelerada
Direitinha que nem um fuso
Para de novo se espetar
E é por isso que o amor cansa
De ligação em ligação
Lá vai andando
Feito criança
Passando dos braços de um
Para os olhos do outro 
E mais outro e outro e outro e outro e outro e outro e outro e outro e outro e...
Qual beija-flor colorido
Se lambuzando no arbusto florido
Inebriado pelo perfume e pela cor
Qual barquinho flutuando sem sentido
À deriva no mar das emoções
Quebrando as ondas 
Como quem quebra corações
Apenas para terminar afundado
Inundado de ilusões 
Rodopiando até ao fundo
Como quem dança
Uma dança infinita
- Oh dança maldita!
Com o mundo todo a girar
Sem nunca parar
Até acabar tonto  
Virado de pernas para o ar
E é vêr aquelas almas errantes
Esgotadas, baralhadas
Ainda assim, entusiasmadas
- Quais lobos das estepes
Transformados em carneirinhos 
De espuma e salpicos salgados
Lá vão em debandada
Rumo a essas paragens celestiais
Tão longínquas quanto belas
Onde tudo é paz e temperança
E o amor é ainda uma dança
Mas já não cansa.
 
 
 

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