20 December 2015

Mausuleum

Immaculate walls
Made of time and hope,
Unfinished emptiness
Embraces the dead corpses 
Of long lost love
And silent broken hearts,
Longing between 
Darkness and dust...

4 December 2015

Vertigo

- Kiss me.
- Yes, mistress.
And they fell again...

26 November 2015

Song

The weight of the world
is love.
Under the burden
of solitude,
under the burden
of dissatisfaction

the weight,
the weight we carry
is love.

Who can deny?
In dreams
it touches
the body,
in thought
constructs
a miracle,
in imagination
anguishes
till born
in human--
looks out of the heart
burning with purity--
for the burden of life
is love,

but we carry the weight
wearily,
and so must rest
in the arms of love
at last,
must rest in the arms
of love.

No rest
without love,
no sleep
without dreams
of love--
be mad or chill
obsessed with angels
or machines,
the final wish
is love
--cannot be bitter,
cannot deny,
cannot withhold
if denied:

the weight is too heavy

--must give
for no return
as thought
is given
in solitude
in all the excellence
of its excess.

The warm bodies
shine together
in the darkness,
the hand moves
to the center
of the flesh,
the skin trembles
in happiness
and the soul comes
joyful to the eye--

yes, yes,
that's what
I wanted,
I always wanted,
I always wanted,
to return
to the body
where I was born. 


by Allen Ginsberg

12 November 2015

The Lonely Spirits

We are the artists,
The inventors,
The writers,
The authors,
The humanists,
And the fighters.
We are the crazy,
The intriguing,
The sick
And the weirdos.
We are the sexy,
The interesting,
The exciting,
The assholes
And the whores.
We are the misfits,
The outlaws,
The lonesome cowboys
And the indians.
We are the gypsies
And the mountebanks
And the explorers.
We are the happy,
The desperate,
The tough,
The wanted
And the broken.
We are the lovers,
- Not the husbands.
We are the failures
- Not the standards.
We are the passionate
- Not the steady.
We are the warriors
- Not the soldiers.
We are the lonely spirits
And we are free.
Just leave us alone
Just let us be!

6 October 2015

Hurricane

Slowly blowing
The curly wind begins to whirl
Like a dancer
Kindly lifting life
Up in the blue sky 
Turning it grey and wet and cold
As it speeds and grows
Bigger and bigger and bigger
Faster and faster and faster
Turning into this giant scary 
Master of the earth and sky and beyond
Leaving nothing quiet behind
Sweeping every field
Sucking every sea 
Razing and destroying 
Everything as it passes by
Giving life to storm and thunder and hail
Ripping every sail
Tearing every root
Only lovers left alive
Alone...

1 September 2015

Poema de Sotavento

Cai a noite serena ao sul.
O cheiro quente da palha
Envolve o intenso luar.
Orquestras de grilos e cigarras
Fazem o feno falar.
O mar morno nos ouvidos...
Cheira a Islão e maçapão.
Lendas brancas e estrelas sábias
Deslizam como lava lenta e ardente pelos terraços.
Nas noites azuis ainda dançam
Mouras encantadas e sereias inebriadas,
Até que tudo cubra e adormeça
A bruma da madrugada.




18 August 2015

A Sala de Espera


Atrasada. Para não variar. "O senhor doutor está numa consulta e tem já outra senhora às seis e meia. Vai ter que aguardar..." Agonia! Horror! E agora? Faço o quê?! Sento-me. A tentação procura-me freneticamente o telemóvel na carteira. Só tralha. Ainda abro o Facebook. Tenho pouca bateria... Merda. Nem para ir adiantando uns telefonemas serve. Devia ter trazido um livro. Mas não trouxe. Ou aquela revista, em cima da mesinha... Tem lá um artigo tão bom sobre big data e privacidade e eu ainda nem a tirei da embalagem do correio. Por este andar, vai pelo mesmo caminho da edição do mês anterior... Podia ao menos ter trazido a porcaria do computador. Sempre adiantava algum relatório ou ia actualizando umas tabelas. Até tinha lá a candidatura para acabar e tudo! Podia ir revendo o meu paper... Tanta coisinha para fazer... Rendo-me. Olho em volta. Um senhor sisudo, de óculos pesados e grossos, todo encasacado e escuro. É tão sisudo e mal-encarado... E feio. Que homem feio, apre! Tem uma verruga na testa e tudo. Encara-me de frente. Desvio o olhar rapidamente para parecer que estava a olhar para a televisão em silêncio. Portugal em Festa. Era o que me faltava agora... Já não bastava estar para aqui a queimar o meu rico tempinho... E, ao meu lado, uma velhinha gordinha contente folheia uma Caras de há dois anos atrás. Não percebo que piada esta gente acha em vir para o consultório entreter-se com revistas fora da validade... Há malucos para tudo. Também, coitados, pouco mais farão para além disto. E, às tantas... Quem me diz que a velhinha não é dona de um império capitalista e o sisudo não é um gigolo desgovernado? Isto quem vê caras... Lá estou eu a fazer filmes. Se ainda ao menos tivesse aqui o computador... Raisparta a bateria do telefone! Sou mesmo estúpida. Como é que eu não pensei que isto podia acontecer? Mania de andar sempre a correr. Depois dá nisto. Que raio de sorte, no meio dos velhinhos a curtir uma seca monumental... E não há para aqui mais revistas? Uma Nova Gente de capa engelhada e um par de Pais&Filhos novinhas mais uns panfletos das farmácias... Seja! Pego numa Pais&Filhos (são as duas iguais). O sexo na gravidez, o pack a levar para a maternidade, o pai e o parto... Olha que giro. Nunca tinha pensado em nada disto, que engraçado. Realmente deve ser lixado: todos os preparativos, as hormonas em alvoroço, a criancinha aos berros... E esta agora? Vinte minutos de lições inesperadas. A velhota continua agarrada à Caras... Ponho-me a folhear a Nova Gente, novas caras, novos looks, novas frases, novos temas, novas imagens... Toda um novo universo desactualizado que eu já não via há tanto tempo. Faz-me lembrar quando ia ao cabeleireiro com a minha mãe. Ui, tanta revistinha comi! Então quando ela se punha a pintar o cabelo... Entretenho-me a conhecer as actrizes, os apresentadores, futebolistas e cantores de que nunca tinha ouvido falar ou tinha mas nunca sabia quem eram. Agora já sei! A Floribela até tem filhos! E a outra, coitada, teve um cancro mas já superou. Não deve ser fácil... Estes dois, que nunca vi mais gordos, separaram-se e ela já anda com outro. É assim mesmo, não perde tempo! E esta estupidez do miúdo das orelhas?! Agora pagaram-lhe uma plástica? Que folclore do caraças... Horóscopo fora de validade, check, umas receitas muito coloridas e sensaboronas, check, mais um sudoku já todo riscado e quinze minutos cor-de-rosa se passaram. Não há mais? Boa! A velhota entrou para a consulta. Atiro-me à Caras antes que mais alguém entre na sala de espera. Olha-me esta ainda é viva... Como ela está! Era tão bonita. E a outra que... "Dra. Fátima? Vamos entrar?" Que pouca sorte! Logo agora que ia começar a ver as toilettes da gala dos Globos de Ouro. Tenho que marcar outra consulta em breve...

21 June 2015

Solstício

Hoje celebra-se a vida,
A força dos corpos,
O suor dos espíritos,
A vontade da natureza.
Hoje celebra-se a luz
E o breu que a engole;
Celebra-se o grito
A duas vozes do parto
E o buraco negro da morte.
Hoje celebra-se o fogo
Que nos alimenta e destrói.
Celebra-se o costume
E a ruptura vigorosa.
Hoje celebra-se a canção
E o seu silêncio.
Hoje celebra-se o tempo
Que passa e que ainda dura.
Hoje celebra-se a vida.
Hoje celebra-se o amor.

14 May 2015

Estátuas Embriagadas

Cruzamentos
Num espaço sem tempo.
Corpos que dançam sem cabeça.
Estátuas embriagadas de si,
Rolam entre gerações
Libertas do peso
Do antes e do depois.
Formas deformadas
Pela diferença da beleza
Dos seus dias,
Atropelando-se pelo chão
Que foge das suas mãos
Que não são suas.
Hoje fui o mar.
Desequilibrei-me nas ondas,
Caí na espuma da criação.
E acordei com o mundo deitado sobre mim
Até me dançarem palavras pelos dedos
Sem cabeça. :)

23 March 2015

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera o tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Fernando Pessoa

12 February 2015

De eus



"De eus" | collaborative video installation from Daniel Pinheiro on Vimeo.


Fátima São Simão – concept, interviews and script
Daniel Pinheiro – video
Anselmo Canha – sound
Mariana Amorim – choreography and performance
Tiago Bôto – narration


Portugal, 2014

“Given the historical modifications that are taking place it does not seem necessary that the author function remains constant in form, complexity and even in existence.”
— M. Foucault in What Is an Author?


“De eus” (of selves) is an essay on authorship and the freedom of creation.
This collaborative work is part of an on-going research on authorship and its impacts on the creation of artistic and economic value, within the Doctoral Programme in Art and Design of the Faculty of Fine Arts of University of Porto.

As a result of a series of interviews made to artists, performers, entrepreneurs, researchers and other professionals in the field of culture (including the artists involved in this project), de “eus” (the expression in the title resembles the word “god” in Portuguese – “deus”) invites to a reflection on the multiple dimensions of authorship and the complexity of rights, liberties and limits that they can enclose.

Fátima São Simão is a PhD student in Art and Design at the Faculty of Fine Arts of the University of Porto

Video Installation: “De eus” (Fátima São Simão) – Heterotopias: Percursos Criativos Paralelos / Exposição de Estudantes de Doutoramento em Arte e Design 2013-14 (25.07-06.08.2014)

22 January 2015

Present

Here's to the here and now.
To the new found lands
And new found fellows.
Here's to those who inspire you,
Who teach and guide you.
Here's to the surprise of today,
Reference for tomorrow.
Here's to the sunny days of the heart
And crossing bridges into the fog.
Here's to the human touch,
The holding hands for the future,
The trust in each other.
Here's to the fortune of not being alone
And the certainty of being universe.
Here's to worldquakers.
Here's to the present,
Forever.