19 December 2012

Do paralelipípedo


Quando comecei a tirar a carta, o meu pai ensinou-me uma regra de ouro para conduzir sem alterar o meu estado nervoso natural: "Pensa que todos os carros à tua volta são paralelipípedos, não levam ninguém lá dentro. São meros obstáculos." Assim fiz. E desde então, graças a tão sábio ensinamento, tenho evitado as situações mais desagradáveis e inoportunas a que o trânsito normalmente expõe. Desde mal encarados a tarados sexistas e demais imbecis do asfalto, a ideia do paralelipípedo-obstáculo que é apenas preciso contornar (nem sequer evitar, apenas contornar) tem-me poupado toda uma vida de dissabores ao volante.  

Ora, recentemente, fiz uma chamada transferência de conhecimento. Talvez o amadurecimento dos anos ou talvez a estupidez da realidade que nos envolve, cada vez mais exposta, me tenha levado à apaziguadora conclusão de que nem só no trânsito vivem os paralelipípedos!

Ah pois é! A nossa pequena sociedade global (aquém e além fronteiras, online e offline, real e virtual/ nominal) está infestadinha de paralelipípedos cinzentos, simples, pobres, ignorantes, desinteressantes e desinteressados. Concerteza que, com tal descoberta, as cores do mundo ficam menos gritantes... Mas os contrastes ficam também mais nítidos! E os sinuosos caminhos desviantes dos ditos obstáculos tornaram-se bem mais focados, determinados, evidentes.

É que, como dizia um velho amigo, "contra a estupidez humana ninguém pode." E, voltando ao preciosamente incómodo paralelipípedo, se não pode contra pode à volta. Pois vivam os contornos e desvios! Que a vida também não é para ser levada a eito. Nem a peito! :)




"Nothing in life has to be taken seriously - except the joy of life." – Maharishi


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