4 January 2023

Luzinhas azuis deslizando
Suavemente em sinuosos
Diagramas de cores
Que se repetem e multiplicam

Enquanto corpos se arrastam

Em câmara lenta

Desdobrando-se e dilatando-se

Gigantes que ainda agora eram do meu tamanho

Passeiam pela sala ondulante, oscilante

Alice do outro lado do gato diletante

Frio abrasador ou calor cortante

As pontas dos dedos dormentes, persistentes 

E o estendido repicar dos sinos

Ecoando pelas montanhas e pela pele

Flocos de algodão cercando a língua

Até deslizarem garganta abaixo

Em cascata espiral infinita

Lá fora, paredes de árvores e folhas 

Fundem-se e desdobram-se 

Em casulos de míticas figuras

Ora diabólicas, sinistras, daninhas

Ora pueris, divertidas, tolinhas

Demónios, girafas, rainhas

Dançam e riem por dentro e por fora

É a vida seguindo novo ritmo

Que afinal é o mesmo de sempre

Enquanto respiro pintas de leopardo

E, pela primeira vez, conheço de novo o meu braço.



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