A Anita desviou a vida
Numa sexta-feira
Numa sexta-feira
Que não era treze
Nem fria nem triste
Era uma sexta-feira
De sol, de férias, de calor
Era uma sexta-feira
Cheia de cor e cheiros e sabor
E memórias das histórias
Sob as estrelas
Longínquas, solitárias
Que já não lembro
Mais ainda imagino
O céu azul limpo
Reflectindo salgado
No mar transparente
O corpo embalado pelas ondas
Peixinhos atrevidos
Mordiscando os pés
Ai!
Lambo o rosto molhado
Dói-me o coração
Porque a Anita desviou a vida
Qual cortina incómoda
Ali à boca de cena
Onde a terra acaba
O mar começa
E o poema aplaude e grita:
Fica, Anita, fica!
para a Ana Luísa Amaral (1956-2022)