13 September 2021

A barragem

Até que finalmente 
Decidi abrir as comportas
E deixar toda a aquela água jorrar.
Até ali, estivera calma, tranquila,
Quase imóvel, 
Ignóbil.
E, no entanto, tornou-se casa,
Fonte de vida, lugar de alimento.
Da sua tranquilidade 
Brotavam ecossistemas inteiros,
Convincentes artifícios
Com todas as suas camadas:
Predadores e parceiros,
Empenhados em manter 
Aquele equilíbrio estático
Tórpido
Antipático
Pouco empático.
Engenhosa construção
A ferro e fogo,
Cheia de razão.
Até que finalmente 
O choque da tua ausência
Provocou tamanho aperto no peito,
Tamanho nó na garganta,
Tamanha volta à barriga,
Que eu perdi a resistência.
Implodi o sentido da razão,
Abri as comportas do coração,
E deixei toda aquela água jorrar
Sem saber onde iria parar
Sem calcular o quanto 
Nos poderia ainda magoar
Sem perceber
O quão destrutiva, implacável, inexorável
Poderia ainda vir a ser.
- Um dia, ainda me afogo em mim.
Falta tanta água correr...

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