21 September 2019

A Poesia Só Me Fode

A poesia só me fode.
Não fora ver tudo
Com esta luz inebriante
E talvez a vida fosse mais constante
Menos emocionante...
Não fora afogar-me no vinho
Que atiça o corpo
E adormece a razão
E já dançava menos
Evitava outro trambolhão
Ou caía menos desamparada
Porque talvez alguém
Me estendesse sua mão
- Provavelmente não.
Mas é que a poesia só me fode!
Não fora o outono da idade
Chover nos meus olhos
E talvez visse menos desfocado
Haveria mais claridade
Não tropeçava com tanta frequência
Refastelada no meu encosto
Para a saúde e para a doença
Não sofreria nenhum desgosto
Tamanha a crença na indiferença.
Mas não, havia de nascer poeta
Daqueles que cospem as entranhas
Pela boca e pelos olhos e pela mão
Qual vulcão em erupção
Chuva de estrelas incandescentes
A cair iradas, aceleradas
Para logo depois se apagar
Adormecer, arrefecer, dissipar
E sofrer baixinho para regar
A vida que cresce sobre si
Até voltar essa vontade de sacudir
E de tudo em torno destruir.
Cabum! Pum! Pow!
Eu vou é mas é dormir!
Que a poesia só me fode...

6 September 2019

Montanha

Castelo no meio do mar
Senhora gigante
Guardiã atlântica
Esmagas com a tua
Majestade
Quem ousa
Olhar-te de frente.
Ah! Pudesse eu domar-te
Tomar-te em meus braços
E desvendar os teus mistérios!
Fechava-te no meu coração
E oferecia-te ao meu amor.
- Não posso. E ainda bem.


O Paraíso

Lá, onde a terra
Nem chega a começar
E o céu nunca acaba,
Mergulho num manto de azul infinito
E afogo-me
Entre oceanos de verde vigoroso
E terras de lava magnânimas.
Lá, onde não há norte nem sul,
Presa pela liberdade
E enterrada em vertigem
Rendo-me à minha insignificância
E sou enorme ao descobrir
Que o mistério da vida é nenhum
E o paraíso sou eu.