26 August 2019

Esfinge

Eu sou aquela
Que ninguém decifra,
Ninguém desvenda
Nem antecipa.
Eu sou aquela
Que é má e boa,
Metade mulher
Metade leoa.
Eu sou aquela
Que é feita de pedra
Mas cuida sempre 
De quem a observa.
Eu sou aquela
Enterrada na areia
- Se chegas muito perto
Cais na minha teia.
Eu sou aquela
Que é nova ansiã,
Austera e invicta
Dos corações guardiã.
Eu sou aquela 
Que espera sozinha
E, mesmo parada,
Segue a sua trilha..
Eu sou aquela
Que o tempo corrói sem dó.
Um dia minha pedra 
Voltará a ser pó
E todos vão perceber
Porque nunca me senti só.

19 August 2019

Cantiga

Ai de mim,
Que sou tão desgraçado!
Julgava ter achado o amor
Na forma de um rebuçado
Mas afinal era só uma bala
Que me trespassou o coração, 
Fez ricochete nos miolos
E ainda me perfurou um rim.
Aquilo que pensava ser o princípio
Afinal era só mais um fim.
Ai de mim,
Que vivo em castigo!
Pois julgava ter achado o amor
À volta do meu umbigo.
Mas aquilo que parecia um amigo
Era afinal só mais uma triste dor
Que se me instalou na cabeça,
Arrastando meu juízo pelo chão.
E eu, bêbado de sonhos e ilusões,
Fui acabar estendido 
No meio dos outros foliões.

Tatuagens

Um mapa invertido
Uma rosa dos ventos sem norte
Encontraram-se entre as linhas
Das entrelinhas da sua sorte.
Ele estava meio desligado.
Ela ia cheia de gás.
Ele rodopiou-a numa rasteira
E ela caiu redonda no chão - prás!
De repente, tudo se misturou:
Norte e sul
E céu e mar
- Tudo era azul,
Tudo era ímpar.
Confundiram-se os desenhos
Dos corpos e das almas.
Já não eram só estranhos,
E os anjos batiam-lhes palmas!
Enredaram-se pelas linhas tortas
Das suas direcções direitas;
Que de tão torcidas e desnorteadas
Eram afinal tão simples, escorreitas.
Ensarilharam-se as tatuagens,
Sinais de sangue a tinta da china,
Marcando a preto o seu destino:
Onde um começa, outro termina.
E foi assim que, no meio da confusão,
Ganharam o espaço e o tempo,
Para celebrar o redescobrimento
Desse novo mundo em contrução.


16 August 2019

Mulata

Chamou-me mulata.
Mulata, da mula
Do animal
Do inferior.
Mulata pra comer,
Mulata pra prender,
Mulata pra foder.
Mulata na inocência,
Mulata na ausência,
Mulata na paciência.
Mulata de cor e de cor
Por não saber que havia diferença
Por não saber que mulata é doença,
Fruto de violações,
Opressões, explorações.
Fruto de quem chegou
Ocupou e arrasou.
Fruto do primitivo
E podre e desumano,
Fruto de quem pode
Contra quem nem imaginava...
Fruto dos nossos antepassados
Opressores e oprimidos,
Ilustres desconhecidos
Que nos deixam envergonhados
Mas cujos estragos
Podem ser corrigidos.
Mulata é o caralho!
Não sou mais nem menos
Pessoa que tu,
Sem medo, sem género,
Sem cor, sem dor,
De mãos dadas.

11 August 2019

To build

Be the place you want to live in the world.


9 August 2019

#poemamillenial

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4 August 2019

Ser o Sol

Ser o Sol é muito intenso.
É brilhar incessantemente,
Sem descanso,
Mesmo quando não há vontade.
É ver os planetas em volta 
Reagirem ao seu calor e brilho,
Alguns frios e distantes,
Alguns secos, escaldantes,
Por terem chegado demasiado perto
Sem, no entanto, lhe chegarem a tocar.
Mas há sempre um cheio de vida,
Colorido, luminoso, inebriante
Eterno namorado,
Longe o suficiente para não se queimar
Perto o bastante para se poder amar.
E todos o cercam, circundam, 
Confundem, misturam...
Todos se alimentam
Do seu brilho e do calor
Que o Sol tem para emanar. 
E o Sol continua a dar
E queima e explode e rebenta
Sabendo que nada lhe será nunca devolvido
E mesmo que fosse, isso não faria sentido,
Porque haveria sempre de ser destruído 
Num instante, pelo seu fogo imenso
- Fossem retornos agradecidos
Ou ataques enraivecidos.
É que o Sol só pode brilhar só
E, só assim, é tão intenso.



1 August 2019

A Idade do Amor

Dizem que o amor não escolhe idade.
E é bem verdade:
O amor aparece dos 0 aos 100,
Quando se é adolescente,
Quando se é velhinho...
Seja ele príncipe,
Princesa ou ninguém!
O amor também passa muito tempo
Sem aparecer.
Às vezes, o que parece uma vida inteira,
Outras, só regressa mesmo
Pouco antes de se morrer.
Mas lá vai acendendo,
De quando em vez,
Para nos lembrar que estamos vivos
E podemos sempre confiar na insensatez.
- Sem nunca escolher idade,
É verdade.
Mas o amor também envelhece.
Vai ficando mais depressa cansado,
Embora entusiasmado,
Fica também mais sábio e apaziguado.
A experiência dá-lhe calma
E tira-lhe o medo.
Cada vez tem menos a perder,
Cada vez se farta mais cedo,
Porque, quando não encontra onde pousar,
Levanta voo cada vez mais alto,
Fecha os olhos e respira fundo,
Saboreando a brisa fresca que passa,
Para, de novo, se inspirar.