Depois da morte a vida não sabe a nada. Sabe a vazio, a oco, a vácuo. Depois da morte não se vive. Tudo pára. Tudo fica calmo, plácido. Breu. Silêncio.
E a tua cara séria, pálpebras pousadas entre as flores. Som. Luz. E vêem-se lágrimas e ouvem-se gemidos. E ouvem-se silêncios contundentes e vêem-se sorrisos afogados: "já não se lembra", "lembro, sim."; um esforço... Respostas deslizam rápidas. Falar emociona... Faltam as palavras. Um companheiro quebrado, segura-se com força aos amigos que abraça em série. Dor. Vazio forte no olhar do ventre. Vazio sentido. Falta um... Abraço apertado. Confusão. Uma multidão desconhecida, espessa e escura movimenta-se lenta em torno do corpo florido.
Fátima. Lembram-me as tuas mousses de chocolate e a tua mão sempre lampeira para me servir de mimos. Lembra-me a tua voz doce, que não sabia gritar, erguendo-se perante as nossas inúmeras tentativas de suicídio a brincar. "Oh, Luís!" e um braço partido no baloiço. Lembra-me o teu nome choramingado no páteo para evitar um arrufo conjugal, "oh, Fatinha..." (e eu baralhada...), ou um raspanete maternal, "oh, mamã...". Confusão. E uma multidão desconhecida, pequenina e colorida correndo frenética em torno do teu corpo florido.
A vida depois da morte é interminável. A vida depois da morte é pueril. A vida depois da morte é florida.
Viva tu.
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