22 July 2025
Parto poético
A mesa
14 July 2025
É como cair num poço.
Eu nunca caí num poço.
Mas já acordei estremunhada
Com aquela sensação
De ficar sem chão
Em vertigem desamparada.
Lembrar-me que estás morto
É uma dor sem fim
Um grito surdo, agudo e ruim
Um buraco negro no peito
Um sonho lindo desfeito
De um rio correndo para fora do leito
Lembrar-me que estás morto
É um salto em queda livre
No vazio infinito
É um mergulho picado
A pressao profunda e gelada
Que esmaga o coração
E me aperta a vida toda.
I Didn't See That Coming
Pedi-te em casamento
Porque era bom para os impostos
E estavamos encalhadas ha anos.
E assim, quando eu morrer, tu ficas com a casa.
"I didn't see that coming!"
Rimo-nos muito.
Acabamos o prego e as cervejas
E fomos ao cinema e dançámos.
Nunca casamos.
E tu partiste primeiro
Now, I did t see that coming...
23 April 2025
9 March 2025
17 February 2025
Dolmen
16 February 2025
10 February 2025
A Clareza da Noite Escura
Reflexão Eco-Mitológica sobre o Luto
Estou de luto pelo meu grande amigo e companheiro Daniel, uma espécie de alma gémea sem forma ou classificação possível que tive o privilégio de acompanhar ao longo de 25 anos das nossas vidas.
No dia em que recebi a notícia, partilhara ao almoço o meu profundo respeito pelo luto de criaturas não-humanas, como a orca que carregou a sua filha morta no nariz durante semanas ou a macaca que não largou o cadáver do seu bebé ao longo de mais de um mês, sempre apoiada pelos seus parceiros de cativeiro. Eu sei que não vou carregar nenhum cadáver indefinidamente. Mas também sei que a natureza nos inspira a vivermos os nossos lutos como, quando, onde e com quem mais faz sentido. Ao contrário de muitos humanos, até bem próximos de mim: "Tens que começar a ultrapassar"; "vais ver que isso vai passar com o tempo", entre mudanças de assunto e outras técnicas inúteis, etc. Pouco mais de uma semana se passou, mas eu continuo com o Daniel "no meu nariz" e ainda não estou preparada para o largar. Como a macaca, tenho um bando de amigos maravilhosos que partilharam da mesma sorte de o conhecer e viver enquanto foi possível - estamos a amparar-nos em rede, diariamente ligados e acolhidos uns pelos outros.
A morte torna tudo muito claro. E o chamamento da natureza (e das suas lições) é inequívoco. Sentir o toque da terra nos pés, o som das ondas, o cheiro da erva, o sabor da fruta, as folhas das árvores a balançar... A natureza sabe exatamente como amparar a nossa dor da perda. E nós sabemos exatamente o que fazer, se nos abrirmos a ela. E isso inclui as suas histórias, que são as nossas, como a da deusa Nungeena, venerada no sudeste Australiano, que nos relembra o poder da restauração e da beleza, depois de uma praga de insetos venenosos ter destruído o mundo. Assim me encontro agora, em restauração, à redescoberta da beleza depois de uma "civilização" envenenada - à qual pertenço - ter levado uma parte tão importante do meu mundo.
É hora de transformação.
1 February 2025
Wicked Little Town
31 January 2025
O Ano da Serpente de Madeira
29 January 2025
OS AMIGOS