Muito feia
Cheia de grades
E uma portinhola
A intenção era boa
Caíra-me um passarinho à porta
E o desgraçadinho aflito
Nem voava nem piava
Com a sua asinha torta
Dei-lhe água e comida
Mas ele fugiu
- Um sopro de alegria!
Ainda se espetava
Contra paredes e janelas
Abri-as todas
Escapou por uma delas
E - zás! - foi logo apanhado
Pelo gato assanhado
Que cruzava o quintal
Enxotei o animal
Guardei de novo o passarinho
Logo pela manhã
Voltou a fugir
Todo trôpego e desequilibrado
Quando o segurei entre as mãos
Encarou-me de frente
Olhos nos olhos
- Deixa-me ir.
Pousei-o de novo e saí.
No regresso
Comprei a tal gaiola
Muito feia
Cheia de grades
O passarinho jazia morto
Estendido no chão
Muito gelado
À minha espera.