Eles não sabem nem sonham o que conquistaram. Porque, na verdade, não conquistaram nada. Adiaram um problema. Criaram a ilusão da liberdade e foram fechando os olhos aos golpes miseráveis que lhe foram sendo disferidos. Está resolvido, não se pensa mais nisso. Ninguém está a ver... Não vás por aquela rua. Não aceites rebuçados de estranhos. Tu tem cuidado, filha... Até tens muita sorte.
E tenho! Porque cresci nessa ilusão tão boa que é a Liberdade. E aprendi com ela. E, por causa dela mesma, até fui pela tal rua. E até era bem bom o raio do rebuçado do estranho. E da outra vez que não tive cuidado apanhei um susto do caraças. Mas safei-me bem. E, entretanto, essa ilusão, ó seus grandes palermas!, tornou-se a minha realidade. E eu dela não abdico! E como eu, toda uma geração a quem foram chamando rasca e à rasca, que afoga os seus males na tasca e no dia seguinte acorda com a ressaca... E sim, senhor, que o fazemos! Como vocês faziam. Envergonhados, escondidos, amedrontados. Pois bem, nós perdemos a vergonha, perdemos o pudor, perdemos o medo. Nós somos a Liberdade! E somos os vossos filhos.
Abracem-nos.