O meu pai é uma criança
Com quem brinco
Desde o momento em que nasci
E por isso nunca mais cresci
É um contador de disparates
Um inventor de coisas raras
Um despertador de curiosidades
Um poço de conhecimento
Mesmo quando a memória lhe falha
O meu pai é um chato
Que me arrelia
Desde que sou gente
E me persegue com lições
Preconceitos, doutrinas
Convicções bacocas
Ou idealismos indigestos
O meu pai é um sonhador
Que me chapinha nas poças da chuva
Debaixo de um impermeável
Todo molhado e cheio de cor
Ou me encharca de lama
E minhocas e bichas-cadela
Para me devolver à terra
Ou me empurra ao mar
Até chegar bem lá no fundo
Até quase me afogar
Para me ensinar a lutar
O meu pai acha que substitui
A companhia do amor
Por um televisor...
Ou as crises de meia-idade
Com projectos a multiplicar
O meu pai não é nenhum herói
Ilustríssima vedeta
Ou prémio Nobel da física
Da literatura ou da aritmética
E também não é nenhum monstro
Nem selvagem nem ditador
O meu pai é um homem normal
É uma pessoa do seu tempo
Para o bem e para o mal
Cheio de defeitos e virtudes
Com as suas angústias, anseios
E frustrações e muito amor
Como todos nós, no fundo
É o melhor pai do mundo.
No comments:
Post a Comment