No reino dos poetas
Todos andam nus
Todos andam nus
E a cada passo se calam
Para ouvir
O chilrear dos pássaros
O cantar dos regatos
O gotejar da chuva
O sussurrar do vento
O murmurar das moças
Uma gargalhada
Um gemido
Um lamento
E sorrir
Antes de continuar
No reino dos poetas
As palavras são cores
Que flutuam como nuvens
E inebriam quem passa
Enchendo o mundo de graça
Pincelando as dores
Embelezando o sofrimento
No reino dos poetas
Não há líderes nem regulamentos
Não há promessas nem certezas
Nem futilidades nem miudezas
No reino dos poetas
Há é muita angústia, há amor
Há grandes paixões, há torpor
Há tanto desalento e rancor
E há esperança
Muita comoção
E há alegrias também
- Porque não?
Porque no reino dos poetas
Partilham-se feridas abertas
Em jeito de oração
E ternas dedicatórias discretas
Que aquecem o coração
Porque no reino dos poetas
Vive-se com a sofreguidão
De quem fosse morrer hoje
Assoberbado em aflição
Logo agora que tudo ia de feição
É que no reino dos poetas
Todos são sábios
Todos são loucos
Todos são mágicos
E todos são sempre poucos.
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