A poesia só me fode.
Não fora ver tudo
Com esta luz inebriante
E talvez a vida fosse mais constante
Menos emocionante...
Não fora afogar-me no vinho
Que atiça o corpo
E adormece a razão
E já dançava menos
Evitava outro trambolhão
Ou caía menos desamparada
Porque talvez alguém
Me estendesse sua mão
- Provavelmente não.
Mas é que a poesia só me fode!
Não fora o outono da idade
Chover nos meus olhos
E talvez visse menos desfocado
Haveria mais claridade
Não tropeçava com tanta frequência
Refastelada no meu encosto
Para a saúde e para a doença
Não sofreria nenhum desgosto
Tamanha a crença na indiferença.
Mas não, havia de nascer poeta
Daqueles que cospem as entranhas
Pela boca e pelos olhos e pela mão
Qual vulcão em erupção
Chuva de estrelas incandescentes
A cair iradas, aceleradas
Para logo depois se apagar
Adormecer, arrefecer, dissipar
E sofrer baixinho para regar
A vida que cresce sobre si
Até voltar essa vontade de sacudir
E de tudo em torno destruir.
Cabum! Pum! Pow!
Eu vou é mas é dormir!
Que a poesia só me fode...
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