17 February 2025
Dolmen
16 February 2025
10 February 2025
A Clareza da Noite Escura
Reflexão Eco-Mitológica sobre o Luto
Estou de luto pelo meu grande amigo e companheiro Daniel, uma espécie de alma gémea sem forma ou classificação possível que tive o privilégio de acompanhar ao longo de 25 anos das nossas vidas.
No dia em que recebi a notícia, partilhara ao almoço o meu profundo respeito pelo luto de criaturas não-humanas, como a orca que carregou a sua filha morta no nariz durante semanas ou a macaca que não largou o cadáver do seu bebé ao longo de mais de um mês, sempre apoiada pelos seus parceiros de cativeiro. Eu sei que não vou carregar nenhum cadáver indefinidamente. Mas também sei que a natureza nos inspira a vivermos os nossos lutos como, quando, onde e com quem mais faz sentido. Ao contrário de muitos humanos, até bem próximos de mim: "Tens que começar a ultrapassar"; "vais ver que isso vai passar com o tempo", entre mudanças de assunto e outras técnicas inúteis, etc. Pouco mais de uma semana se passou, mas eu continuo com o Daniel "no meu nariz" e ainda não estou preparada para o largar. Como a macaca, tenho um bando de amigos maravilhosos que partilharam da mesma sorte de o conhecer e viver enquanto foi possível - estamos a amparar-nos em rede, diariamente ligados e acolhidos uns pelos outros.
A morte torna tudo muito claro. E o chamamento da natureza (e das suas lições) é inequívoco. Sentir o toque da terra nos pés, o som das ondas, o cheiro da erva, o sabor da fruta, as folhas das árvores a balançar... A natureza sabe exatamente como amparar a nossa dor da perda. E nós sabemos exatamente o que fazer, se nos abrirmos a ela. E isso inclui as suas histórias, que são as nossas, como a da deusa Nungeena, venerada no sudeste Australiano, que nos relembra o poder da restauração e da beleza, depois de uma praga de insetos venenosos ter destruído o mundo. Assim me encontro agora, em restauração, à redescoberta da beleza depois de uma "civilização" envenenada - à qual pertenço - ter levado uma parte tão importante do meu mundo.
É hora de transformação.