26 October 2024

Gratidão

À centelha 
Que decidiu acender
Em mim para
Desde então,
Insistir em existir
Numa casa de xisto
Onde ainda vou morar,
Sentir a vida
Saborear
Essa terra húmida
E a pureza do ar
Arrefecendo
Os meus pulmões
Quentes, latentes
Quais alforrecas 
A ondular 
No azul imenso
Do mar.
A esse ritmo
Esse pulsar
Essa extraordinária 
Máquina 
Sempre a funcionar
Sem precisar
Que ninguém a controle
Ou reclame
Mesmo quando
Me esqueço 
De a cuidar e amar.
Ainda assim,
Ela continua
Sem parar
Até ao dia
Que ela escolha
Para me libertar.

Querida Bia,
Soube que desististe. Imagino que estivesses muito cansada. Que pena que não nos voltamos a cruzar... Talvez tivesse feito diferença. Oxalá tivesse! Se calhar, fez... Na certeza de te sentir por perto, quero que saibas que a tua luz fará sempre parte do meu brilho. Espero que tenhas levado um pouco da minha contigo também. E que ela contribua para alumiar essa travessia misteriosa que decidiste iniciar mais cedo - embora essa escuridão deva ser bem mais acolhedora do que a que aqui, às vezes, nos engole. Quando chegar a minha hora, espera-me à porta e dá-me a mão. Sê minha guia. Até lá, vem visitar-me ao bosque de vez em quando. Dancemos juntas, entre a vida e a morte, com as árvores, os ventos, os bichos e os regatos, levantando a poeira que somos, rodopiando em círculos até nos dissolvermos no tempo, no espaço que somos. Abraço-te com o coração.
Até já, estrelinha irmã.